quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O dia em que encontrei Elomar

Tomei conhecimento deste grande menestrel através do projeto Cantoria, lançado em CDs pela finada Kuarup Discos. Foi através deste registro magnífico do encontro entre outros três mestres da chamada música "Regional" (Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai), que nasceu minha admiração por Elomar Figueira Mello.


Desde então assumi o compromisso comigo mesmo de, assim que surgisse a oportunidade, ver Elomar em uma apresentação ao vivo, antes que o ciclo natural da vida (minha ou dele) impossibilite a realização deste desejo.

O tempo foi passando, a minha admiração se manteve, senão ampliou-se. E a oportunidade não chegava. Há muito havia lido que Elomar odiava (e muito provavelmente ainda odeia) sair de sua "Casa dos Carneiros", situado em pleno sertão baiano, cercanias de Vitória de Conquista. Por isto, foi com grande entusiasmo que vi o cartaz divulgando a apresentação do menestrel em plena "paulicéia desvairada", idos de maio de 2006, no SESC Consolação.

De máquina fotográfica em punho, sigo eu e a digníssima para o esperado momento. Chegamos cedo a ponto de conseguirmos lugares bem na primeira fila. No horário marcado, o menestrel entra de viola na mão. Solitário. Aplausos persistentes e os inevitáveis flashes (dentre eles, os meus), o que faz Elomar advertir logo de início, após apenas os cumprimentos de praxe, que não era de seu agrado fotos durante sua apresentação. Daria sim a oportunidade para a tietagem, porém apenas após o final da apresentação, com direito a autógrafos e tudo o mais no saguão do teatro.

Apresentação memorável, com muita conversa e explicações entre uma música e outra para contextualizar o público do universo de cada umas delas. Seguiram-se "Parcelada", "O Pidido", "Cantiga de Amigo", "Arrumação", "Campo Branco", dentre outras muitas composições do infindável  repertório de Elomar. A certa altura, ele chama ao palco para acompanhá-lo o maestro João Omar, seu filho. Nada mais justo que a força criativa deste menestrel influenciasse fortemente os passos de seu herdeiro e oferecesse ao público um inspirado dueto.


Tudo magnífico. Mesmo para quem, como eu, passou parte da apresentação ouvindo, juntamente com a voz de Elomar, um sujeito que insistia em acreditar que o público tinha se dirigido até ali para ouví-lo cantarolar.

Logicamente, ao final e já no saguão do teatro, não perdi a oportunidade de registrar aquele momento, provavelmente único para mim. O curioso foi que meu troféu, a foto tão esperada, revelou um momento por demais descontraído deste menestrel tão avesso à exposição de sua imagem.

Segue um relato e entrevista com Elomar, a última que tomei conhecimento.


O grande sertão de Elomar
(no Blog do Anderson)

Em entrevista exclusiva ao Cultura, o recluso compositor baiano Elomar Figueira Mello avalia sua trajetória artística, faz críticas aos Estados Unidos, à democracia e às massas, ataca a televisão e diz que não grava mais discos.


Desde que surgiu no cenário da música brasileira, com ...Das Barrancas do Rio Gavião (1972), cantando em uma linguagem dialetal “sertaneza”, Elomar Figueira Mello já apresentava sua proposta de versar sobre o sertão profundo, retomando o universo medieval. Dialogando com a música popular e a música erudita, o cantor e compositor gravou um total de 15 discos, entre 1972 e 1995, compondo óperas, concertos e canções.

Aos 71 anos, o “príncipe da caatinga”, como definiu o poeta Vinícius de Moraes, raramente concede entrevistas, não permite ser fotografado durante seus concertos e realiza poucas apresentações. Formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Elomar abandonou a capital assim que concluiu o curso, e retornou ao local onde nasceu, o campo, para criar carneiros, ovelhas e bodes. Na fazenda, que recebeu o nome de Casa dos Carneiros, 20 km de Vitória da Conquista, no interior da Bahia, Elomar compôs praticamente todas as suas obras. E recusou-se a compor contra a ditadura.

Em 2007, realizou algumas apresentações pelo Brasil para lançar Sertanílias, seu primeiro romance, publicado de forma independente. No mesmo ano, viajou a Portugal, onde fez uma pequena série de concertos. Em 2008, cancelou o lançamento do que seria o seu primeiro DVD, resultado de um concerto gravado em 2007, que reuniu uma orquestra, contou com a participação dos músicos Xangai, Saulo Laranjeira e Dércio Marques, e reuniu cerca de 2 mil pessoas na Casa dos Carneiros, oficializando a fundação cultural que hoje existe na fazenda.

Segue a continuação do relato e a entrevista com Elomar.

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